Quero melhorar a qualidade dos bezerros fazendo tricross. Que raça usar?

Fonte Giro do Boi

Em entrevista concedida ao Giro do Boi que foi ao ar nesta terça, dia 09, o zootecnista Alexandre Zadra, supervisor regional comercial da Genex para os estados do Acre, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia, autor do blog Crossbreeding, esclareceu dúvidas de 12 telespectadores a respeito de cruzamentos para gado de corte e perguntas relacionadas.

As dúvidas são cada vez mais frequentes, visto que o uso de tecnologias para a reprodução bovina avançam no Brasil. Conforme divulgou recentemente a Asbia, Associação Brasileira de Inseminação Artificial, sobre as vendas de sêmen em 2020, foram quase 24 milhões de doses comercializadas, crescimento de 28% em relação a 2019.

“Hoje o produtor precisa dispor de tecnologias e utilizá-las. E uma das tecnologias mais fáceis ou mais práticas para aumentar a produção, sem sair de casa, sem mudar muita coisa na fazenda, é fazer inseminação. Você mantém o seu sistema, sem precisar mudar muito a fazenda. Você precisa ter um bom tronco e um curral com pastos próximos para os lotes de vacas aguardarem e é só você fazer inseminação que você já cresce quilos de bezerros”, opinou Zadra.

“E se fizer o cruzamento (entre raças), então aí você tem 20% de acréscimo. É uma janta dada de graça para nós pelo vigor híbrido. Então é importante a gente pensar que a inseminação – eu estou há 30 anos no ramo – dá um salto tão grande quando o criador faz a primeira vez. […] Quando ele faz a primeira inseminação é muito bacana, a bezerrada é tão diferente e aí ele pega essas novilhinhas Nelore que ele fez em casa, um Nelore melhorado, e depois quando elas forem vacas ele faz cruzamento para produzir ainda mais quilos de bezerro, tudo com a mesma matriz… Isso que é bacana, e sem mudar nada na fazenda. Não precisa mudar nada. Lógico que precisa ter comida, mas isso é padrão. Mas você não precisa pensar em grandes coisas. Apenas inseminando você já tem um acréscimo absurdo de carne produzida por vaca”, ilustrou o especialista.

Zadra comentou que em 2020 a procura por produtos relacionados à reprodução bovina foi tão alta que chegou a zerar estoques. “Algumas raças mais utilizadas e procuradas, como Angus, alguns touros Nelore, que são muito procurados por terem boas qualidades para habilidade materna… Vamos dizer que não zerou o estoque (de sêmen), mas ficou muito no limite porque você tem um plano de crescimento, só que dobrou o crescimento. Aí você fica um pouco assustado, mas a gente conseguiu resolver isso. […] Já o estoque de protocolo zerou. O estoque de protocolo monodose no ano passado zerou. Em dezembro e janeiro não tinha protocolo monodose no país. Nenhuma central, nenhuma empresa de protocolo tinha isso, pelo menos é a informação que a gente tinha. […] Agora praticamente voltou ao normal em março”, tranquilizou Zadra.

O zootecnista destacou quais são as buscas dos criadores neste momento para quem faz a estação de monta invertida. “Começa agora a seleção de touros Nelore de parto fácil e também de boa habilidade materna para utilizar sobre as novilhas Nelore que não chegaram no ponto de enxerto em dezembro, janeiro ou mesmo novembro. Agora elas estão com 30 meses, é uma idade bacana para você colocar as novilhas. Ou para ter aquela superprecoce, as precocinhas com 18 a 20 meses, que estão entrando no cio agora. Alguns criadores fazem essa estaçãozinha de abril, maio, junho, por aí, mais ou menos. Então agora em março eles estão comprando os touros parto fácil, Nelore, Zebu, para reposição de matrizes sobre essas novilhinhas brancas. E quem tem as F1 está desafiando agora porque não entrou no cio em janeiro ou dezembro, está comprando sêmen dos bimestiços ou das raças taurinas adaptadas para usar sobre essas novilhinhas F1”, observou.

O consultor recomendou que as compras de parte dos insumos mesmo para quem faz a estação de monta convencional, depois da virada para o segundo semestre, seja feita neste momento. “Uma boa parte ou uma certa porcentagem dos clientes compram agora, em março ou abril, para garantir o sêmen daqueles touros que todo mundo quer, mas que provavelmente não vai ter (devido à alta procura). Normalmente eles já têm uma rotina do caminhão de nitrogênio passar e abastecer (portanto podem formar estoque). Mas eles já estão comprando, já tem muita gente comprando porque, na época de compra, em agosto, todo mundo está comprando o mesmo touro. Então eles querem garantir agora”, apontou.

O zootecnista sustentou que o momento, inclusive, é propício para o criador investir na sua propriedade e no seu planejamento, uma vez que ele está bem capitalizado, de modo geral. “Pela primeira vez depois de 30 anos que eu estou no ramo, […] o criador consegue arrumar cerca, reformar pasto, jogar adubo no pasto, calcariar… pela primeira vez. Então a margem do criador está muito boa agora para ele poder arrumar a fazenda. Depois de 30 anos, a fazenda, às vezes, está debulhada. Eu estou falando do vendedor de bezerro, que pela primeira vez, ao invés de vender um bezerro de R$ 1.000,00, está vendendo um bezerro de R$ 3.000,00. Então são R$ 2.000,00 a mais, mas a vaca dele comendo a mesma coisa – pasto. E comendo um saco de sal por ano. Então pela primeira vez a margem da pecuária de cria está muito boa”, destacou.

“Ele vem reinvestindo em matrizes de qualidade, usando sêmen um pouco mais caro, sêmen de Nelore para repor Nelore de até R$ 30, R$ 35,00. Mas ele usa os touros top porque ele sabe que a matriz dele hoje vale. E a matriz, na cria, só come pasto e um saco de sal. Então o custo do criador é o mesmo. Já o custo do invernista a gente sabe que não, isso por causa do milho, da soja. Para ele é complicado porque ele tem que comprar. O criador, pela primeira vez, que não precisa comprar nada, nenhum produto, já tem a matriz, pela primeira vez consegue arrumar a fazenda”, declarou.

Além do investimento em sêmen, Zadra informou que os criadores também estão mais criteriosos na compra dos touros de repasse. O zootecnista ponderou que mesmo touros que não sejam top 0,1% podem agregar valor à genética do rebanho. “Quando você faz um acasalamento e você tem a DEP projetada de dois animais 0,1%, vai sair um animal 0,1%. Toda a leva de bezerros dele vai ser 0,1% ao nascimento. Nasceu com 0,1%, então ele é 0,1%. Só que depois, quando esse touro tiver muitos filhos, a acurácia vai aumentando e pode cair desse top 0,1%. Pode ser top 20%, top 15%, só que apenas por ter mais filhos. Então são muito bons os top 20%, top 25%, top 30%, não há nada de ruim. O criador vem pagando mais caro por touro. Ele pagava R$ 10.000,00, hoje ele paga R$ 20.000,00 em um touro top. E vai pagar. O criador hoje não quer mais touro mais ou menos para repassar. Os nossos clientes só compram touros em leilão a partir de R$ 18.000,00, R$ 20.000,00. Porque ele já insemina, então como ele vai usar touro ruim?”, indagou Alexandre Zadra.

Confira abaixo a sessão de respostas às dúvidas dos telespectadores:

– Trabalho com cria e vacada Nelore. Quero introduzir cruzamento industrial e tricross para melhorar a qualidade dos meus bezerros. Gostaria de duas propostas, uma para produzir animais mais rústicos e outra para produzir animais mais exigentes, com o fruto do tricross tendo pelagem mais clara afim de facilitar o manejo, controle de sanidade, carrapatos e mosca de chifre. Pensei em Tabapuã e Brahman, como de Zebu, e Blondel / Blonde, Charolês / Canchim, Caracu, Senepol, Pardo Suíço e Bonsmara, mas não sei com qual teria a melhor heterose e se iria perder muito ao excluir as raças mais escuras desse cruzamento, como a tradicional Angus para F1. Quais seriam as melhores opções? (Lincon Pinhé).

Zadra: Se você quiser ficar com um cruzamento entre zebuínos, ou fazer uma matriz zebuína de qualidade como uma base, você pode cruzar com Tabapuã, Brahman ou Guzerá na Nelore. Você vai fazer uma matriz meio-sangue zebuína, ela será uma F1 zebuína.

Depois, se quiser fazer um cruzamento terminal pode usar um Red Angus, por exemplo, ou um Hereford, que é vermelho e dá um bezerro um pouco mais claro. O ideal (no tricross) é você usar um europeu. Então você pega uma raça europeia, pode ser o Charolês ou Simental, como cruzamento terminal.

Se quiser fazer um tricross padrão, você usa uma raça materna europeia, como Angus, faz a meio-sangue Angus e aí você faz um tricross sobre ela. Você pode usar para rusticidade um Caracu ou um Senepol sobre essa F1. Recomendamos um Senepol de grande porte sobre essa F1 Angus. E mesmo o Bonsmara, que dá um pouquinho mais de pelo, […] mas depois ele perde o pelo e fica muito bom esse tricross Bonsmara.

– Gostaria de saber se aqui no Tocantins eu posso colocar Charolês ou Hereford nas F1 Senepol x Nelore. Gostaria também de saber se posso usar o Senepol nas F1 Senepol x Nelore. (João José Ribeiro, de Palmas-TO)

Zadra: O melhor é você usar um europeu. O Charolês ou Hereford. Use o Charolês e o Hereford porque a sua Senepol x Nelore é 100% tropical, então você pode usar uma raça europeia do frio.

– Pretendo trabalhar com cria e recria de animais com carne de excelente qualidade. Usar matrizes Aberdeen Angus e um touro Hereford em região com clima subtropical é recomendável? Quais as vantagens e desvantagens? Com as Angus x Hereford eu poderia utilizar qual touro para formar um tricross com carne de excelente qualidade? (Cezar, de Campina Grande do Sul-PR)

Zadra: Pelo visto, ele tem matriz Angus pura. Aí ele usa Hereford puro. Esse Hereford na Angus é o bolita, ou aquele animal que é preto com uma máscara. Esse animal é usado muito na Argentina para fazer carne de qualidade. Vai firme que é muito bom.

Ele pergunta sobre a F1. O verão é calor (na região de Campina Grande do Sul-PR). Eu tenho minhas restrições para ter só europeu. Mas de todo modo, ele deve ser caprichoso para fazer carne de qualidade. Então uma opção que você tem para fazer carne de qualidade mantendo taurino sobre a sua F1 Angus x Hereford pode ser o Bonsmara. Ele é um taurino puro, tem carne macia e você tira um pouquinho o pelo desse animal que você tem nessa matriz.

– Tenho novilhas Tabapuã x Senepol e Nelore x Senepol. Já vi que você indicou cruzar com um touro europeu, mas eu tenho um touro Brahman PO. Eu posso cruzá-las com ele? (Ronalde Coelho, de Guanhães, região montanhosa no leste de MG)

Zadra: Cuidado com o parto. Se as novilhinhas não forem parir com 420, 430 kg, cuidado porque o problema de parto que a gente mais cuida é quando a gente usa uma novilhinha sem cupim, ou uma taurinizada. Quando você joga Zebu nela, esse Zebu fica dez dias a mais dentro da barriga dela para parir, então ele nasce pesado. Então tome um cuidado com o uso de Brahman em qualquer F1 que não tenha cupim, como é o caso da sua F1 Senepol x Nelore. Ela não tem cupim.

– Faço o cruzamento de F1 com F1 no interior Paulista e estou satisfeito com o resultado. Gostaria de saber a opinião de um especialista. (Luiz Fernando Persin Borges, de Santa Rita do Passa Quatro-SP)

Zadra: Se você pegar 2.000 matrizes e selecionar essas matrizes para cruzar com touro F1, os machos F1 que você vai usar são bois, não são touros. Se você quiser pegar um macho F1 que foi uma sumidade lá entre 2.000 animais, se você selecionar um entre eles, se esse é um boi que poderia ser um touro em qualquer programa, tudo bem. Mas vai dar muita despadronização. Então é melhor você usar, por exemplo, um Brangus.

Você gerar F2 não é fácil. Cruzamento de dois F1 se chama F2. Tricross é tricross, F2 é o cruzamento de dois F1. Até existem rebanhos na Austrália de animais que são cruzamento Braford, cruzamentos sempre de meio-sangue com meio-sangue. Mas aí é um programa de seleção.

Então melhore a sua produção utilizando um touro bimestiço dessa raça que você está usando sobre suas matrizes F1. Quer manter a raça, então pegue um bimestiço. Se for touro meio-sangue Angus, use Brangus. Se for meio-sangue Charolês, use Canchim. Essas raças já têm um programa de seleção, então vamos usar um touro que venha do programa de seleção.

– Tenho uma pequena criação de Red Angus. Posso inseminar o Black Angus nele? Nós inseminamos uma vaca Red Angus com sêmen Red e veio uma Black. Por quê? (Antonio Carlos Zeferino, de Blumenau-SC)

Zadra: Cruzar com Aberdeen ou Red depende do seu mercado. Se você tem um mercado para Red, continue usando Red. Se o mercado está bom para o preto, que muita gente hoje vem usando, você pode usar um Angus de altíssima qualidade para você fazer seu cruzamento e, enfim, seus bezerros pretos.

(Quanto à segunda dúvida) Nasceu um bezerro preto porque provavelmente o Red Angus que você usou tinha lá atrás essa linhagem de preto, de Angus. Por isso nasceu preto.

– Qual raça é indicada para cruzar com novilhas ½-sangue Nelore x Angus no estado do Acre, para aproveitar a fêmea produto desse cruzamento para reprodução e os machos para comercialização? De preferência que tenham a coloração preta predominante. O Bonsmara é uma opção? As crias dessa raça serão pretas? E as de Caracu? As raças Senepol e Montana são opções viáveis também para situação descrita?. (Leandro Souza)

Zadra: O Acre é muito úmido então o que a gente costuma recomendar é que se você for usar Bonsmara aí ou os bimestiços, como Canchim, Brangus e Braford, você tem que caprichar no pós-desmama. Tem que dar comida. Mas se você tiver uma recria extensiva, o Caracu vai muito bem no seu gado. Ele tira o pelo e faz animais para você criar extensivamente. Não precisa se preocupar com carrapato porque será um tricross. Você usa uma raça taurina adaptada sobre a sua F1 e vai tirar o pelo do gado. E o Acre é complicado, tem que ser animal com pelo zero.

– Posso cruzar vacas Caracu x Nelore com touros Nelore? (Kleber, de Barra do Bugres)

Zadra: Pode, e é muito boa essa volta com o Nelore. […] Se você voltar com um Zebu, com o Nelore sobre a sua F1, vai dar um bezerro desmamado espetacular. Pode voltar que vai ser muito bom. Se você quiser fazer um tricross com outra raça, você pode usar um europeu. […] Por exemplo, lá em casa eu faço cruzamento com o Angus, que é um europeu do frio, sobre uma fêmea tropical de grande porte, que é a Caracu x Nelore.

– Pretendo comprar novilhas F1 Red Angus X Nelore e Senepol x Nelore e estou pensando em colocar touros Guzerá. Será que vai dar problema de parto? (Evaldo, de Sapucaia-RJ)

Zadra: Tome cuidado com o touro se a novilhinha for parir com menos de 420 kg. Tome cuidado porque o problema de parto que existe é quando você usa o Zebu numa novilhinha que não tem cupim.

Zadra: O Braford já tem sangue zebuíno, então gera menos heterose. O Bonsmara e o Senepol, ambos vão gerar heterose de 100%, porque os dois são taurinos. Não tem nada de zebuíno. Então são muito boas as duas raças para você utilizar. O Senepol na Nelore faz um produto espetacular. Ele é como se fosse um Angus em termos de biotipo. E o Bonsmara também faz um animal muito bom, um animal zulego muito bom. Já o Senepol vai ficar amarelo.

– Cruzamento de touro Guzerá com novilhas meio-sangue aneloradas dá bezerros bons? Estou fazendo a monta com touro, mas ainda não nasceu bezerro. (Toninho, de Itaúna-MG)

Zadra: Muito bom, espetacular. O Guzerá eu usei um pouco no meu gado, um Guzerá do IZ (Instituto de Zootecnia de São Paulo, em Sertãozinho-SP) e foi muito bem.

– Se usarmos o Red Poll em cima da Nelore, depois inseminar com Caracu e depois inseminar com Simental eu terei um bom resultado no geral? (Pedro Arthur, de Pedro Leopoldo-MG)

Zadra: Quando ele usa o Caracu nessa meio-sangue Red Poll, ele faz um animal ¾ Zebu e aí depois você usando um europeu em cima vai fazer ⅝ europeu, como se fosse um bimestiço e vai bem. Só que precisa dar ração depois.

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