O que explica o sucesso do cruzamento industrial na pecuária brasileira?

Fonte Giro do Boi

Nem sempre foi um mar de rosas. Por exemplo, entre 2000 a 2005, houve um decréscimo expressivo do uso de raças europeias por conta de desajustes entre expectativas e os meios para que os animais expressassem todo o seu potencial. Mas passado o período de aprendizagem e de maturação tanto de tecnologia como do sistema produtivo, os criadores consolidaram o crescimento do cruzamento industrial no Brasil.

“A gente nem culpa também o pecuarista porque muitas vezes ele não está assessorado, ou está mal assessorado, e escuta que o vizinho usou determinada raça e por aí vai. […] Foi um crescimento constante de lá para cá e é muito bom a gente relembrar também que, de 2005 para frente, foi justamente quando os protocolos de inseminação artificial em tempo fixo realmente ficaram bem estabelecidos, o custo melhorou e aí a gente começou, de certa forma, a ter esta ferramenta para ser utilizada em maior quantidade também no cruzamento industrial”, relembrou em entrevista ao Giro do Boi desta terça, 1º, o médico veterinário e mestre em reprodução animal Fábio Girardi Frigoni, gerente de produto corte de animais europeus da CRV Lagoa.

Conforme brincou Frigoni, como o órgão que mais dói no ser humano é o bolso, o produtor passou a rejeitar o cruzamento num primeiro momento, sem identificar que sua fazenda precisava estar preparada para oferecer as condições necessárias para que os animais F1 tivessem o desempenho esperado. Na sequência deste momento de ajuste, o crescimento foi vertiginoso, puxado por uma locomotiva representada pela raça Angus.

“É raça que representa cerca de 80% do mercado das raças de corte taurinas. Se no ano passado vendeu-se 7,2 milhões de doses (de sêmen de raças taurinas), a raça Angus vendeu quase seis milhões. E esse ano só a raça Angus vem sinalizando uma comercialização de mais de 7 milhões de doses. É algo impressionante. É uma raça que vem sendo trabalhada, melhorada no Brasil também. Os pecuaristas aprenderam a trabalhá-la e, realmente, estão ganhando dinheiro”, apontou o veterinário.

O especialista ressaltou que além do Angus, outros taurinos seguem na esteira do avanço do uso do cruzamento do País, casos do Brangus, do Braford e do adaptado Senepol. “Realmente a nossa força nesta área (tecnologias de reprodução bovina) é coisa gritante e o mundo já percebeu – todo mundo sabe da nossa qualidade genética e, agora com o avanço também da produção de carne de qualidade, realmente o cenário é cada vez melhor para a gente”, projetou.

Além do domínio sobre a técnica da inseminação artificial por tempo fixo, que representa 95% do uso da inseminação artificial em gado de corte no Brasil, Frigoni destacou o trabalho dos programas de melhoramento genético que produzem gerações de animais cada vez mais funcionais para as condições do País.

“O Brasil tem excelentes programas de melhoramento das raças taurinas. Vamos citar a raça Angus, que esse ano está incorporando a genômica na evolução das características avaliadas e isso está sendo muito bem levantado. A questão de ectoparasitas, a contagem de carrapatos e a questão do pelame já são características que estão avaliadas e os animais que estão no programa já têm uma DEP, uma avaliação para estas características. E faz total sentido porque a hora que a gente está no campo, você vê que de fato tem animais de pelo mais curto, pelo liso, o animal mais resistente. […] Com certeza, com a genômica que está sendo incorporada dentro do programa, por exemplo, da Promebo, eu creio que, no médio prazo, nós teremos animais já bem mais resistentes para estas características, pensando que o grande volume do sêmen utilizado das raças taurinas realmente são para fazer carne, e quando eu falo isso é no Centro e Norte. Então faz muito sentido, vem evoluindo e este ano com esta novidade da genômica sendo incorporada no programa”, aprovou o veterinário.

O mestre em reprodução animal destacou que além da rentabilidade dentro do sistema de produção, o potencial do cruzamento para produção de carne com qualidade superior é um diferencial significativo. “O que a gente está percebendo é que a pecuária nacional vem evoluindo. Cada vez mais as fazendas são empresas rurais e realmente estas propriedades estão ganhando dinheiro. As fêmeas, hoje, são destaque nos principais programas de qualidade de carne para receber este tipo de bonificação. Geralmente são as fêmeas porque são animais mais precoces. A fazenda já consegue dar um giro nela mais rápido e realmente os programas vêm em cima desta carne e pagam muito mais”, reconheceu Frigoni.

Depois de calibrar o sistema de produção e dominar as tecnologias de reprodução, o produtor passou a encontrar alternativas para aumentar ainda mais o desfrute viabilizado pelo cruzamento industrial, como o uso de fêmeas para produzir carne com valor agregado depois de deixar um bezerro para a fazenda.

“Na minha opinião o grande crescimento da venda de sêmen da raça Brangus, da raça Braford é neste sentido porque, porque como você falou há pouco, tem exemplos de pecuarista abatendo fêmeas de 20@ com zero dentes, que já é algo excepcional. Mas a média de peso destas fêmeas com zero dentes seria de 16@. E é aí que eu falo – o pecuarista consegue tirar uma cria desta novilha f1, incorpora mais quatro arrobas a ela, chega nestas 20@ e ali com J1, J2, no máximo, ela ainda entra nos programas de remuneração de carne e ainda te deixa um bezerro de quase 300 kg já pronto para entrar no confinamento. Então é bonito você visitar uma fazenda que trabalha desta forma, é coisa de encher os olhos porque a pecuária é pujante.

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