O que é, como fazer e como lucrar com a RIP – recria intensiva a pasto?

Fonte Giro do Boi

Em uma de suas participações recentes no quadro Giro do Boi Responde, o médico veterinário e consultor Ademir Ribeiro, idealizador do Programa Touro Zero e consultor da Estância Espora de Prata, em Ariquemes -RO, usou um novo termo para classificar um sistema que está utilizando para acelerar o ciclo do boi dentro da porteira: a RIP, sigla para recria intensiva a pasto.

Segundo o consultor, a RIP serve para aproveitar a oportunidade de usar um dos períodos mais sensíveis da pecuária de corte, a recria, para reduzir custos e acelerar a terminação. “É sensível mesmo. Você imagine que a carcaça de um boi é osso, músculo e gordura. No período dessa fase de recria, o maior desenvolvimento aí é de osso e músculo. Então o pecuarista que faz confinamento, o pecuarista que faz já uma terminação intensiva a pasto e também aquele pecuarista que compra o bezerro, recria e vende garrote sabe o quanto isso é importante dentro de uma fazenda, poder melhorar e entender essa fisiologia de crescimento ou esse crescimento muscular porque só depois que vem a gordura na terminação”, apresentou.

Ribeiro comentou que o sistema tradicional de recria atende cada vez menos a pecuária competitiva, uma vez que não chega a compensar nem o ágio do bezerro. “É uma oportunidade única! Precisa investir na recria, começar a investir muito na terminação. E deixar o bezerro ganhando lá 150 g, 300 g… isso não dá efeito positivo, o feedback foi negativo. Veja bem, uma arroba de boi hoje aqui em Rondônia está na casa dos R$ 305,00 a R$ 310,00. Já o bezerro passa dos R$ 410,00 a arroba. Um ágio de 25% a 30%. Ou seja, um diferencial do bezerro para o boi de R$ 100,00! Sabe quantos gramas nós temos que colocar por dia se você fizer uma conta para pagar somente o ágio? Esse bezerro precisa ganhar 200 gramas por dia para pagar somente o ágio. E o resto, os custos fixos que você tem que fazer e tem que ser diluídos? Então é o momento, tem que recriar e tem que intensificar a recria”, justificou.

Foi então que para facilitar a compreensão e uso de tecnologias que intensifiquem essa fase o consultor pesou no conceito da recria intensiva a pasto, ou a RIP. “Na verdade a RIP é um novo nome, é a recria intensiva a pasto. Mas muitos pecuaristas do Brasil já recriam há muito tempo com produtos de 0,3% a 0,5% (do peso vivo de consumo), principalmente os confinadores já fazem. A RIP consiste em um GMD alto, é um ganho médio diário acima do sistema tradicional. É exatamente você encurtar o ciclo desse boi dentro da fazenda. É exatamente você preparar esse animal, o trato digestivo dele para ele entrar no semiconfinamento, na terminação intensiva a pasto ou no confinamento com um trato digestivo totalmente organizado e desenvolvido, uma microbiota pronta. Então a RIP consiste mesmo, na verdade, na evolução de todo o sistema do animal entre osso, músculo e trato digestivo. Esse é o sistema”, resumiu.

O veterinário detalhou como desenvolve os tratos usados na RIP. “Para quem faz o creep feeding, ele já tem um animal preparado, já tem um animal desenvolvido, um sistema ruminal adaptado para ciclo curto. Mas para quem não faz, na RIP nós vamos trabalhar acima de 0,5% do peso vivo do animal, ou seja, 500 gramas para cada 100 kg de peso vivo, variando de 0,6%, 0,7% e chegando a até 1% do peso vivo do animal”, informou.

Mas para quem não tem volumoso disponível na fazenda, o veterinário confirmou que “não tem mágica”. “Para quem não fez isso (diferimento de pasto), […] para quem já está com a fazenda lotada, já cortou o talo e não se organizou, eu indico que venda um pouco do gado para conseguir passar porque não existe mágica, não tem 0,5%, não tem 1%, não tem nem 2% do peso vivo que dê jeito aonde não tem volumoso. Então o pecuarista, para fazer uma RIP, precisa se organizar, precisa fazer planejamento, precisa ter gestão, ele precisa saber que vai chegar a seca e ele tem que se organizar para ele conseguir fornecer um produto de 0,5% do peso vivo ou até mesmo de 1% e transformar isso em ganho médio diário, diluindo custos fixos, pagando esse ágio viabilizando ganho de peso acima de 200g por dia de e investindo mais no custo variável. E aí ele consegue adequar uma dieta ajustada entre cocho e pasto”, sustentou.

Ademir fez alguns cálculos ainda para provar que, quando bem conduzido, o sistema ajuda o pecuarista a fechar suas contas. “A conta fecha. Acontece que você vai fornecer, por exemplo, um produto num período desse, vamos dizer julho, agosto, setembro e outubro, que é o período de gargalo (para a produção de pasto). Depois de setembro vem o broto, quando o animal perde peso. Se você deixar ele lá no mineral, sem nenhum planejamento de pastagem, ele vai perder peso, vai entrar com 7@ em julho e sair com 6,5@. Para quem dá um proteinado de baixo consumo, vai conseguir ganhar em torno de 200 g. Ganhando 200 g por dia ele está pagando somente o ágio do preço desse bezerro. Mas se você utilizar uma ração 0,6% […], 600 g para cada 100 kg de peso vivo, se eu pegar um animal com 210 kg hoje para entregar ele em novembro, […] eu vou fornecer de uma ração dessa 1,5 kg por dia na média e vamos dizer que uma ração dessa custa R$ 2,30 o kg. Se eu utilizo 1,5 kg, eu vou fornecer R$ 3,45 por dia. Isso me dá um custo em torno de R$ 420,00 nos 120 dias. Com certeza você vai ganhar 550 g. Com 550 gramas durante 120 dias, você coloca pelo menos 66 kg de peso vivo. Considere que um boi desse vale R$ 11,00 o kg. Se ele vale R$ 11,00 o kg e você colocou 66 kg, você produziu R$ 726,00 e teve um custo de R$ 420,00, sobraram mais de R$ 300,00. Desse valor, tem o pasto, o operacional, vamos colocar mão de obra, medicamentos, vacinas, você vai gastar em torno de R$ 180,00. Ainda sobram cerca de R$ 120,00 para você preparar um bezerro que vai entrar na terminação intensiva a pasto ou no confinamento”, exemplificou.

Além do ganho de peso em si, Ademir destacou que o animal também estará com seu organismo adaptado para qualquer sistema de engorda mais intensivo. “Ele está pronto! Além de pagar a conta, pagou o ágio e ele está pronto, com o trato digestivo perfeito, organizado para embalar carne, ganhar peso e ser abatido dali a 90 dias”, ressaltou.

Depois da RIP, boiada já está adaptada para desempenhar bem na engorda intensiva

Ribeiro lembrou ainda que entre as vantagens da RIP está o fato de que a arroba engordada custa menos do que custaria na próxima fase, na terminação. Para isso, o produtor precisa ter volumoso. O especialista deu as dicas sobre até onde compensa apostar na recria intensiva a pasto conforme a disponibilidade de volumoso. “O custo para eu produzir uma arroba nessa recria é bem menor do que o custo que eu tenho na minha terminação. Então precisa se organizar. Agora se eu estou com pouco volumoso, o que eu preciso fazer? Eu tenho que começar a colocar matéria seca no cocho, esse é o pulo do gato”, revelou.

“Aqui eu não estou adubando a pastagem. A coisa é muito simples. Eu comentei sobre o ganho por área, mas para eu ter um ganho por indivíduo eu preciso fornecer no cocho o mesmo do sistema da recria, de 0,5% ou 1%, senão eu vou ganhar por área, mas não vai resolver o ganho por indivíduo. Nesse sistema nosso, eu chego a transformar matéria seca no cocho em até 80%. Quando eu entro no outono, entre março, abril e maio, o que eu faço? Eu vou fornecendo matéria seca no cocho através da ração. Para cada quilo da ração eu tenho 90% de matéria seca e eu faço o capim brotar no outono com esse gado em cima. Quando eu entro em julho, agosto e setembro eu tenho uma capineira, um feno em pé maravilhoso! E eu continuo produzindo a matéria seca jogada no cocho. Então o pecuarista precisa entender o seguinte: […] vamos colocar 2% do peso vivo de ração. Um bezerro de 300 kg exige 6 kg de matéria seca por dia. […] O pasto tem de 20% a 30% de matéria seca. […] Se você considerar que o capim tem 30% de matéria seca e o bezerro precisa de 6 kg, você precisa de 20 kg de volumoso por dia para ele. Se eu jogo no cocho, nesse caso, 5 kg de ração, eu estou fornecendo 4,6 kg de matéria seca no cocho e só vou precisar de 5 kg de volumoso do pasto. Então eu consigo trabalhar de 4 a 6 UA/ha sem adubação o ano inteiro”, ilustrou.

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