Criador não pode adiar estação de monta mesmo com vacas de escore ruim

Em entrevista ao Portal Giro do Boi, professor Zequinha destacou que este é o ano da IATF e alertou para “repercussão” da decisão de adiar o início do período reprodutivo

Fonte Giro do Boi

Vale a pena adiar o início da estação de monta se as vacas estão com escore corporal ruim? Embora esta seja a situação de muitos criadores em 2021 por conta dos dois anos seguidos de seca mais intensa e consequente piora na condição dos pastos, a resposta é não. Foi o que confirmou em entrevista ao Giro do Boi nesta segunda-feira, dia 27, o médico veterinário, mestre e doutor em zootecnia José Luiz Moraes Vasconcelos, o professor Zequinha, da Unesp de Botucatu.

“São dois anos consecutivos com pouca chuva, então nós estamos com pouca reserva de forragem e, consequentemente, os nossos animais estão com menor escore de condição corporal. Então, na realidade, esse ano é um ano de grande desafio na cria, pois a expectativa é que os resultados sejam inferiores aos nossos tradicionais, que a gente tinha. Consequentemente esse ano o nosso trabalho na cria tem que ser maior e não tem outro jeito: quem quiser ser produtivo, se prepare para trabalhar mais com eficiência reprodutiva”, alertou Zequinha.

O pesquisador foi enfático com relação ao possível adiamento do início dos trabalhos de reprodução por conta do que ele chamou de “repercussão” desta decisão pelos próximos cinco ciclos na fazenda. “Não (vale a pena adiar)!. Está aí algo que não se deve fazer. Se você adiar o início da estação de monta neste ano, nos anos subsequentes você vai ter que adiar porque você não vai mais ter vaca parindo no cedo. Então essa decisão, apesar de ser muito simples de ser tomada, […] a repercussão dela acontece nos próximos cinco anos, uma repercussão negativa. Então muito cuidado na decisão de atrasar o início da estação de monta. É melhor ter um resultado inferior esse ano do que inferior nos quatro anos subsequentes”, resumiu Zequinha.

O especialista aconselhou também os “criadores de primeira viagem”, aqueles produtores menos experientes que estão começando a se dedicar à reprodução por conta da recente valorização dos bezerros. “E para os que estão iniciando? É saber que cria é médio prazo. Enquanto a engorda, por exemplo, (o retorno) é de três seis a três meses e na recria é de seis a 12 meses, na cria é de 18 a até 24 meses. Então a cria é algo mais a médio prazo. As pessoas que estão entrando na atividade, querendo produzir e entrar na cria, têm que saber que é médio prazo. Então não consegue fazer hoje e colher amanhã, vai fazer hoje e colher, entre aspas, daqui a dois anos. O fruto do seu trabalho de hoje, a colheita é daqui a dois anos”, frisou o professor da Unesp.

O veterinário opinou sobre o aumento no uso de protocolos de IATF ao longo dos últimos anos. “Não é bom, não, isso é excelente! A tecnologia de IATF, que permite inseminar a vaca em um momento predeterminado, permite utilizar o excelente trabalho que vem sendo feito pelos produtores nacionais em termos de genética. Então o que está acontecendo? Mais genética de melhor qualidade nos nossos animais através da maior utilização da técnica de IATF”, aprovou. Zequinha citou ainda que os recriadores e engordadores passaram a perceber com mais clareza o impacto que animais de melhor valor genético carregam para os seus sistemas de produção. “Eles estão vendo claramente que genética de melhor qualidade responde melhor dentro do processo de engordar”, confirmou.

O pesquisador ponderou, entretanto, que o avanço do uso de genética melhoradora puxa também melhorias nutricionais para que os animais expressem todo o seu potencial. “Agora esses dois fatores ainda vão puxar o fator nutricional. Os melhores animais, devido à melhor genética, vão exigir melhor manejo nutricional para que tenham melhor expressão dessa genética. Então nós estamos entrando efetivamente, na nossa pecuária de cria, no ciclo virtuoso de alta produtividade”, projetou.

“Esse é o ano da IATF. E não uma IATF, mas duas IATFs, simplesmente porque os animais estão com menor escore e eles estão, entre aspas, piores. Então consequentemente eles precisam mais da minha ajuda. Se for para deixar um recado final é: faça IATF, mas não faça apenas uma, não. Faça duas! É o ano de fazer mais IATFs porque, na realidade., você está ajudando a aumentar a proporção de animais gestantes e pensando no seu negócio nos próximos cinco anos. Não é apenas o número (resultado da estação) deste ano, mas nos próximos cinco anos”, concluiu.

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