Cerrado: expoente da pecuária sustentável no Brasil

* Por Francisco Beduschi Neto

O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (ABIEC), em 2022 foram 2,26 milhões de toneladas que geraram receitas de US$ 12,97 bilhões.

Ao mesmo tempo, o país possui biomas que são importantes para a manutenção da vida do planeta, portanto proteger as florestas e sua biodiversidade passa a ser uma preocupação natural. Normalmente a Amazônia atrai a atenção do mundo todo, mas outro bioma que está em evidência é o Cerrado brasileiro, segundo maior em extensão no país. O foco dos debates está em como conciliar a produção e a preservação ambiental, e o Brasil já tem algumas respostas.

Em se tratando da pecuária, o Cerrado tem todos os pré-requisitos necessários para ser um expoente na questão da sustentabilidade. Há produtores dispostos, crédito, tecnologia e assistência técnica. Contudo, é necessária maior integração entre os diversos atores, incluindo não só produtores e frigoríficos que atuam no bioma mas também varejistas e bancos, para trabalhar em conjunto e de forma coordenada.

O Brasil já tem tecnologia para desenvolver uma pecuária sustentável no Cerrado e um exemplo já bastante consolidado disso são as diferentes modalidades da “integração Lavoura Pecuária Floresta”. A iLPF é uma estratégia de produção que utiliza diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área em plantio consorciado, sequencial ou rotacionado.

A adoção do iLPF traz benefícios em todos os aspectos da sustentabilidade, por exemplo: aumenta a produtividade e a renda por hectare; pode de ser utilizado por pequenos, médios e grandes produtores; melhora o balanço de carbono do sistema produtivo podendo chegar a ser neutro ou mesmo apresentar saldo positivo, acumulando carbono.

De acordo com a Rede iLPF, o Brasil já tem mais de 17,4 milhões de hectares de área produtiva onde se aplicam o iLPF, com destaque para o Mato Grosso do Sul, com mais de 3 milhões de hectares, ou cerca de 16% da área agrícola do Estado. Mas precisamos crescer muito mais para transformar os bons exemplos em realidade, no nosso “business as usual”.

Outra boa notícia para o Cerrado veio durante a 27ª Conferência Climática das Nações Unidas, a COP27, quando o Brasil anunciou que fechou um acordo para viabilizar o Projeto Vertentes. Trata-se de uma iniciativa conjunta dos Ministérios do Meio Ambiente e da Mudança Climática e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), do Banco Mundial e da Global Environment Facility (GEF), que terá investimentos de R$ 130 milhões para: combater a desertificação; promover o manejo sustentável das cadeias da soja e da pecuária de corte; recuperar áreas degradadas; diminuir a emissão de gases de efeito estufa; e proteger a biodiversidade.

Serão beneficiados mais de 47 milhões de hectares do Cerrado nos estados da Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal alcançados.
Ao mesmo tempo em que existem iniciativas de apoio à produção sustentável, como as citadas acima, o mercado estabelece critérios socioambientais rigorosos para os produtos agropecuários. Neste ponto é importante dizer que os compradores da carne brasileira entendem que o progresso consistente e na direção correta é mais importante que a perfeição.

Portanto é fundamental demonstrar aos consumidores (nacionais e internacionais), investidores, varejistas e instituições financeiras que a produção de carne no Cerrado é sustentável e não tem impacto socioambiental negativo.

Sendo assim, o setor precisa aprimorar a sua comunicação e contar de uma maneira mais assertiva a história da pecuária no Cerrado. É preciso incluir nessa comunicação tópicos como o caminho que está sendo traçado pelo setor e o progresso alcançado, além das ferramentas, técnicas e processos para alcançar uma produção sustentável.

Desse modo, o Brasil seguirá sua trajetória de grande fornecedor de carne bovina para o mundo e o Cerrado seguirá tendo um papel central na produção pecuária nacional.

* Francisco Beduschi Neto é engenheiro agrônomo e Líder da National Wildlife Federation (NWF) no Brasil
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