Bovinos eficientes produziram arroba R$ 76 mais barata em prova de desempenho

Fonte Giro do Boi

Em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, dia 11, o médico veterinário Argeu Silveira, diretor técnico da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores) e também da Agronova Nelore, deu dicas para os pecuaristas de corte do Brasil acompanharem a evolução genética do rebanho brasileiro e como isso faz a diferença no resultado da fazenda. Em um dos exemplos, Silveira lembrou de um dos resultados da prova de desempenho de tourinhos da Agronova em 2020, quanto os machos no top 20% da avaliação produziram uma arroba com um custo de produção R$ 76,00 menor do que os animais entre os 20% piores.

“Hoje a gente trabalha com eficiência alimentar em que, por exemplo, a gente pegou agora numa das provas que nós fizemos os 20% de animais superiores, os melhores, com os 20% piores. Então não foi só primeiro contra último, foram os 20% de cada ponta. Os animais melhores estavam produzindo uma arroba de R$ 192,00, e isso só custo de nutrição, e os 20% piores, uma arroba de R$ 268,00. Ou seja, nós tínhamos R$ 76,00 a mais de lucro por arroba produzida. Agora imagine quantas arrobas cada produtor produz e veja o quanto só essa característica pode impactar! ‘Ah, então eu só preciso cuidar da eficiência alimentar?’ Não, precisa cuidar de todas as características. A gente citou só um exemplo de uma característica”, destacou o veterinário.

Argeu relembrou em entrevista concedida ao repórter Marco Ribeiro da evolução da seleção genética ao longo de 40 anos aproximadamente. “Uma coisa interessante é que nós estamos medindo animais desde o início da década de 1980 e, nessa época, a gente não tinha referências. Escolher touros era totalmente ao acaso, não tinha um sumário, uma indicação de quais indivíduos utilizar. A gente ainda tinha muitas fazendas que nem davam sal mineral, então se utilizava sal branco, não se fazia estação de monta, era um outro momento em termos de tecnologia. Mas aquele momento nos levou a aprendizados, a erros e acertos, para trazer para o momento de hoje que é um momento fantástico, não só em termos comerciais, já que a gente está com o nosso produto em alta e com bons valores, mas sobretudo nos avanços de tecnologia”, comentou.

Com a evolução dos parâmetros de seleção, os produtores hoje têm tarefa mais fácil para melhorar o rebanho, conforme destacou Silveira. “Hoje, para quem está começando a trabalhar, está muito mais fácil. Estão aí as tecnologias genômicas, as informações de precocidade sexual, habilidade materna, de fertilidade, os programas de melhoramento genético, a eficiência alimentar, os programas de qualidade de carne, ou seja, para quem está começando agora, é muito mais fácil, porque os erros que nós cometemos – e certamente a gente cometeu muitos erros porque não tinha informações […] – a pessoa hoje não precisa cometer porque tem todas as informações disponíveis”, opinou.

Argeu ponderou que o momento de valorização da arroba pode até maquiar alguns dos erros cometidos, mas que com o mercado mais equilibrado, reunir mais informações e tomar decisões baseadas nelas será cada vez mais importante para a margem. “Nesse momento que a gente está com preços valorizados, ‘opa’, talvez eu ainda consiga sobreviver trabalhando com esses reprodutores de forma desconhecida ou até com DEPs negativas. Mas num momento de maior equilíbrio, eu preciso da garantia genética, eu preciso da produtividade para eu ser competitivo. Sem contar que, por exemplo, neste ano, uma grande parte das áreas de pecuária vão para soja e milho pelos preços atrativos, ou seja, a cada ano o nosso desafio em relação as áreas de abertura no Brasil aumentam, ou por leis ou até porque já estão abertas. E uma grande parte das áreas mais férteis vai migrar para a agricultura. Então a gente vai ter um cenário nos próximos anos de diminuição do espaço físico de produção de pecuária e que a gente tem que compensar com aumento de produtividade”, projetou.

Para quem já reúne informações de avaliações genéticas do rebanho, um próximo passo natural seria reunir os dados referentes também às fêmeas do plantel. “De um lado bom, nós temos outras atividades. […] No Brasil, as terras mais férteis têm vocação agrícola. As terras arenosas têm o eucalipto, você vai para o norte de MInas e lá estão entrando 100 mil hectares para energia solar, você vai para o Sul, estão dando espaço para energia eólica, você vai na Bahia, estão lá as plantações de cacau via clone. Isso é legal porque abre um leque de opções, o produtor não fica refém, ele pode escolher a atividade que melhor remunere e isso é muito bacana. De outro lado, nós, produtores de carne bovina, precisamos nos equiparar tecnologicamente. E nessa equiparação vem o cuidado com essas fêmeas. Não dá mais para eu produzir fêmeas Nelore simplesmente porque são brancas. Então a gente precisa ter uma fêmea Nelore que seja precoce, que seja ganhadora de peso, que seja mansa, que seja fértil e isso tudo vem através de comprar genética certificada. Não tem jeito. Oferta de boi bonito tem todo dia no Brasil inteiro, inclusive nas fazendas. O produtor tem que estar atento porque ele tem levar essa garantia genética para ajudar nessa rentabilidade”, advertiu.

Silveira respondeu como os criadores devem começar a utilizar as informações genéticas em seu rebanho, dividindo entre os pecuaristas comerciais e aqueles que fazem seleção. “Para o produtor comercial, a primeira coisa que ele tem que ver, antes de ele ir lá saber quem é o touro, a cara do touro, a linhagem do touro, o preço do touro ou do sêmen, é pedir as avaliações genéticas e ver se nas avaliações genéticas estão as características que ele busca. Então a primeira coisa está aí. ‘E se o meu fornecedor não tem avaliação?’ Então mude de fornecedor!”, aconselhou.

“A primeira coisa que tem antes de saber qualquer coisa: olhe as garantias genéticas desse produtor. ‘Então eu não preciso mais olhar o touro no mangueiro? Sim, depois de eu fazer a revisão das garantias genéticas! […] Vê se o touro tem o leite que você precisa, o ganho de peso, a fertilidade, o rendimento frigorífico, o acabamento, depois que você viu, via avaliação, aí vamos para o mangueiro olhar se o animal, além desses indicadores, nos agrada nos aprumos corretos, se ele é umbigudo, se vai trabalhar bem. Mas esse é um segundo passo. Então essa é a dica para o produtor comercial. E se eu vou comprar sêmen numa central? Antes de eu ir lá na central, eu faço o dever de casa e olho os touros. Porque a hora que chegar lá, tem touros medianos bonitos e que nos encantam e você, por emoção, compra o sêmen do touro errado. Então antes de você ir lá, faça uma revisão e olha quais os touros que se inserem no seu programa entre os que foram aprovados”, indicou.

“E o produtor de genética precisa entender que precisa da assessoria dos programas, das tecnologias, dos técnicos que estão produzindo essas informações. Para o produtor de genética, ele precisa entender que hoje, e quanto mais no futuro, ele precisa apresentar um animal com garantia genética, com DEPs confiáveis, trazer o pacote tecnológico para dentro da fazenda, com ultrassonografia de carcaça na idade correta, ao sobreano, dentro do grupo de manejo, porque o primeiro mundo tem as diretrizes. […] Então de um lado o produtor comercial precisa estar atento a comprar genética confiável para ele e o produtor de genética tem que entender que aquele produto que ele fez há 20 anos não garante sucesso hoje”, resumiu.

QUALIDADE DE CARNE

Silveira opinou ainda sobre como a produção de carne de qualidade está inserida nesta busca pelo melhoramento genético do gado brasileiro. “Uma das curiosidades é que a gente come picanha e o resto do mundo come contrafilé. O contrafilé dos zebuínos é o nosso calcanhar de Aquiles e a gente não tem como mexer com qualidade. Agora quando eu olho em um boi de 500 quilos, as duas picanhas, a gente está falando de 1,5 a 3 kg de carne. E o contrafilé tem 8 kg de cada lado, somando 16 kg. Ou seja, o contrafilé é a grande peça. Nós temos que trabalhar o contrafilé e melhorar a sua qualidade”, sustentou.

Mas para chegar a este nível de seleção, os dados precisam ser coletados, conforme lembrou o veterinário. “E o que a gente não tem no Brasil? Dados de qualidade da carne. Mas não é alguém abater 20 bois escolhidos e chamar a imprensa, […] isso depende de um programa de qualidade de carne, em que se tenha no mínimo três pais por lote, sem escolher as vacas comerciais, identificados desde a cobertura do nascimento, da desmama até o abate nas mesmas condições, abatendo 100% dos animais. Esses dados passam pelos laboratórios de qualidade de carne e vão gerar, num futuro, DEPs confiáveis de abate. […] Então a gente fez esse trabalho no ano passado, quando já ocorreram os primeiros abates, e agora a gente está intensificando. Eles vão, num futuro próximo, nos dar bases de qualidade de carne para que a gente possa, com a raça Nelore, produzir carne gourmet. […] Existe Nelore com indicativos de produção de carne gourmet. Essa é a boa notícia. Outra coisa que nós precisamos fazer é aumentar o número de abates para a gente ver a confiabilidade desses dados, para a gente ter segurança nesses dados e aí poder orientar os nossos produtores de quais linhagens, quais touros a serem usados para melhorar a qualidade de carne. Nós só vamos poder pleitear mercados à medida que a gente tiver volume com qualidade. […] Eu inverto a lógico de hoje, porque os nossos concorrentes que também produzem carne gourmet também têm um custo de produção muito mais alto que nós e aí vai ser um grande diferencial nosso”, analisou.

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